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Chapéu Verde

- naturalmente da cor de uma alface -

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Dom | 28.02.21

Uma camélia para a Alice

CV | chapéu verde

Proximidade e Distância (para ti, Alice)

A juventude é uma fase muito interessante da vida. Pensamos que sabemos muita coisa e queremos alterar umas quantas outras.

Quase todos nós temos uma enorme força - a garra inerente ao facto de se ser jovem - força essa, algumas vezes mais para se fazer, se pensar ou se dizer disparates, do que para qualquer outra coisa. Necessidade de afirmação e arrogância fazem parte do quadro... Olhando para trás com um sorriso benevolente, acho tão, mas tão engraçado.

Com o passar dos anos, a vida trata de nos educar, limar arestas, aperfeiçoar, demonstrar que muito do que tinhamos como certezas e verdades inabaláveis, afinal, não passavam de meros convencimentos, em grande parte, fruto da inexperiência.

Uma das situações que a vida tratou de ensinar-me foi a respeitar a solidão. A ter um grande respeito pela solidão do outro.

Contrariamente ao que pensava em tempos idos, parte das pessoas que estão sós, não optaram por estar sós: simplesmente por circunstâncias diversas ocorridas na sua vida, acabaram por ficar sós.

Não estou a referir-me a casos clínicos, nem a casos de vidas destruídas por motivos diversos.

Refiro-me sim, a pessoas normais, com uma vida normal, uma carreira profissional até louvável, mas que no seu caminhar pela estrada da vida, foram caminhando umas vezes sós e outras vezes acompanhadas, mas que acabaram por ficar sózinhas, precisamente naquela altura em que mais necessitam de estar acompanhadas: na velhice.

Muitos daqueles que estão sózinhos têm uma atitude defensiva que mantêm inalterada durante anos. Até chegarem ao ponto de terem mesmo que admitir que precisam da ajuda do outro, seja o outro, um particular, uma associação ou uma instituição. Uns tantos outros, quando já idosos, nem isso chegam a admitir. Morrem sózinhos, e imagino eu, na maior das solidões.

A solidão não é uma situação própria do ser humano. Nós somos seres sociais, faz-nos tão bem estar com o outro, seja familiar, amigo, colega de trabalho, vizinho. Criar laços, ter amigos, conviver, conversar faz parte do que somos, embora por vezes, não se páre para pensar nisso.

Hoje é o aniversário de uma amiga minha, bastante mais velha do que eu. Faz 79 anos. Vive sózinha. Não tem filhos.

Tenho imensa pena, mas tanta pena de não estar com ela no dia de hoje! De não poder estar com ela... Eu sinto-me próximo, mesmo à distância. Contudo, a noção de proximidade e de distância de pessoa para pessoa não é idêntica.

Tenho a certeza que ela preferiria a proximidade do estar fisicamente, do acender das velas, do cantar os Parabéns, do cortar do bolo de Aniversário, do celebrar o seu Aniversário num dia de Domingo, acompanhada. Obviamente que não comuniquei ainda com ela, não sei dos seus planos, mas desejo sinceramente que não passe o dia só, sem ninguém.

Uma camélia para a Alice!

 

Bom dia! Bom Domingo!